A benção de uma vida longa

A necessidade de uma reflexão nova e séria, capaz de envolver a sociedade em todos os níveis, também se impõe a partir das grandes mudanças demográficas a que todos assistimos.

Do ponto de vista estatístico-sociológico, os homens e mulheres de hoje geralmente têm uma expectativa de vida mais longa. Correlacionado a esse fenômeno, há uma redução drástica da mortalidade infantil. Em muitos países do mundo, isso levou à coexistência de quatro gerações. Este fato incrível, que muito nos diria sobre a importância de aprender a valorizar as relações intergeracionais, é sem dúvida fruto do progresso médico-científico, de uma saúde mais avançada, de tratamentos mais difundidos, de uma vida social mais solidária. . O planeta está mudando de cara, mas as sociedades - em suas articulações - devem adquirir uma consciência maior disso.

Esta grande transformação demográfica representa, de fato, um desafio cultural, antropológico e econômico. Os dados indicam que a população idosa está a crescer mais rapidamente nas zonas urbanas do que nas rurais e que a concentração de idosos nelas é maior. O fenómeno indica, entre outros, um factor de impacto significativo, nomeadamente o diferencial de riscos de mortalidade, que tende a ser menor nas áreas urbanas. Ao contrário do que uma visão estereotipada possa sugerir, globalmente as cidades são lugares onde, em média, as pessoas vivem mais. Os idosos, portanto, são numerosos, mas é essencial tornar as cidades habitáveis ??também para eles. Segundo dados da Organização Mundial da Saúde, em 2050 haverá dois bilhões de maiores de 60 anos no mundo: portanto, uma em cada cinco pessoas será idosa[11] . Por isso, é fundamental que nossas cidades sejam lugares inclusivos e acolhedores para os idosos e, em geral, para todas as formas de fragilidade.

Como assinalou o Papa Francisco, «hoje a velhice corresponde a diferentes épocas da vida: para muitos é a idade em que cessa o empenho produtivo, as forças declinam e surgem os sinais de doença, a necessidade de ajuda e o isolamento. Social; mas para muitos é o início de um longo período de bem-estar psicofísico e liberdade das obrigações de trabalho. Em ambas as situações, como viver esses anos? Qual é o sentido a dar a esta fase da vida, que para muitos pode ser longa? " [12] . Em nossa sociedade, a ideia de velhice muitas vezes prevalece como uma idade infeliz, sempre e somente entendida como a idade de assistência, necessidade e gastos com cuidados médicos.

 Terenzio Afro há 2000 anos falou de "senectus ipsa est morbus",da velhice como uma doença em si. Ainda assim, na Bíblia, a longevidade é considerada uma bênção. “Confronta-nos com a nossa fragilidade, com a dependência mútua, com os nossos laços familiares e comunitários e, sobretudo, com a nossa filiação divina”. “A velhice - observou bem o Papa Francisco - não é uma doença, é um privilégio! A solidão pode ser uma doença, mas com caridade, proximidade e conforto espiritual podemos curá-la ”.